O setor de OPME no Brasil está passando por transformações que afetam diretamente a sustentabilidade das empresas. Vamos entender melhor esse cenário?
Distorções no Setor de OPME: Um Cenário Preocupante
O segmento de Órteses, Próteses e Materiais Especiais (OPME) no Brasil está passando por um período de grandes mudanças e pressões. A chegada de novos portais de compras, as dificuldades em manter as operações e garantir o faturamento, além de outros fatores recentes, têm colocado muitas pequenas e médias empresas importadoras e distribuidoras de produtos para saúde em uma situação de incerteza, beirando a inviabilidade comercial.
As falhas e desequilíbrios nesse setor, que a ABRAIDI (Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde) acompanha há quase uma década, atingiram níveis nunca antes vistos. Uma pesquisa recente revelou que o total de pagamentos pendentes ou não realizados por clientes, como planos de saúde e hospitais, chegou a impressionantes R$ 4,587 bilhões. Desse montante, R$ 2,2 bilhões estão ligados à Retenção de Faturamento, que representa 17,63% do faturamento das empresas. Isso acontece quando o valor de uma OPME já usada em uma cirurgia não tem a autorização de faturamento aprovada, seja pelo hospital ou pela operadora de plano de saúde.
Além disso, as glosas injustificadas — pagamentos que são barrados ou não feitos sem um motivo claro e legítimo — somaram R$ 229,7 milhões. A inadimplência, por sua vez, alcançou R$ 2,069 bilhões. No total, esses valores comprometeram 36% do faturamento das empresas, mostrando um desequilíbrio econômico-financeiro significativo.
O Impacto dos Portais de Compra na OPME
Apesar de terem surgido com a promessa de modernizar e otimizar as compras, padronizando processos e agilizando cotações, os novos portais de compra de OPME têm gerado efeitos colaterais preocupantes. Muitos desses portais impõem custos adicionais altos aos fornecedores, que nem sempre se traduzem em benefícios proporcionais.
Frequentemente, esses portais operam com uma lógica de leilão reverso. Para poder participar das cotações, os fornecedores precisam pagar taxas de acesso e, em alguns casos, taxas sobre o volume de transações. É como um “pedágio” obrigatório para vender a clientes já existentes, sem que haja uma real expansão de mercado ou maior visibilidade para o portfólio de produtos. Isso acaba por onerar ainda mais as empresas, sem oferecer um retorno justo.
Empacotamento de Procedimentos: Um Risco à Qualidade e Segurança
Outra prática que tem crescido e gerado grande preocupação é o “empacotamento” de procedimentos e insumos, adotado por diversas redes hospitalares e operadoras de planos de saúde. A justificativa é otimizar custos, mas o modelo tem levado a reduções unilaterais de valores, agrupando diferentes procedimentos e materiais em pacotes de remuneração única e reduzida.
Essa prática não só carece de respaldo técnico e jurídico, como também distorce a composição dos custos e pode comprometer a qualidade da assistência. Ao induzir o uso de materiais de menor desempenho e limitar tratamentos, o empacotamento se torna uma forma disfarçada de contenção de despesas. Na prática, isso afeta a liberdade técnica dos profissionais, o equilíbrio dos contratos e a segurança dos pacientes, além de desrespeitar normas importantes como as da CBHPM (Câmara Brasileira de Saúde Suplementar) e princípios básicos do Código de Defesa do Consumidor.
Esses desafios não são isolados; eles refletem mudanças estruturais nas relações entre fabricantes, distribuidores, prestadores e operadoras. Diante desse cenário complexo, a ABRAIDI reforça seu compromisso em buscar soluções equilibradas, defendendo um mercado mais justo e transparente para todos os envolvidos.
Fonte: Revista Cobertura

