Como o seguro rural pode transformar o agronegócio no Brasil

O seguro rural é essencial para a sustentabilidade do agronegócio brasileiro, especialmente diante das mudanças climáticas. Descubra como!

Você já parou para pensar como o seguro rural pode ser um divisor de águas para o agronegócio brasileiro? Neste artigo, vamos explorar como essa ferramenta é vital para enfrentar os desafios climáticos e garantir a sustentabilidade no campo.

A Revolução Agrícola Brasileira e o Desafio da Sustentabilidade

O Brasil protagonizou uma transformação agrícola sem precedentes em apenas meio século. Agora, o grande desafio é garantir que esse avanço seja verdadeiramente sustentável. Essa foi a tônica da abertura do Fórum “Seguros e Agronegócio na COP30”, que aconteceu em 20 de junho, na Casa do Seguro, em Belém (PA). O evento, organizado pela CNseg, ABAG e FGV Agro, contou com a participação do ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, hoje coordenador do Centro de Agronegócio da FGV-EESP, uma voz global no setor.

O Seguro Rural como Pilar de Estabilidade no Campo

Roberto Rodrigues enfatizou a posição central do Brasil na agricultura tropical global. Para ele, o seguro rural é um instrumento fundamental para assegurar a renda, a estabilidade e a competitividade dos produtores, especialmente diante da crescente ameaça dos riscos climáticos extremos. Dyogo Oliveira, presidente da CNseg, relembrou a importância histórica do ex-ministro na criação do Programa de Subvenção ao Seguro Rural (PSR), um marco para o setor.

Impacto dos Eventos Climáticos Extremos e a Queda na Cobertura

Dyogo Oliveira alertou para a gravidade das perdas atuais. O Brasil registra, em média, 4.500 eventos climáticos por ano, resultando em prejuízos econômicos que somaram R$ 200 bilhões no último triênio, com mais da metade desse valor afetando diretamente o agronegócio. Apesar desse cenário crítico, a cobertura do seguro rural teve uma queda alarmante, passando de 16% da área plantada em 2020 para menos de 3% neste ano. Essa redução é um reflexo direto do contingenciamento do PSR (Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural), criando um paradoxo em um período de intensificação dos extremos climáticos. Esteves Colnago, diretor de Relações Institucionais da CNseg, reforçou a contradição de uma potência agrícola com apenas 3% a 5% da área segurada em um clima tão instável, defendendo a revisão do modelo atual.

Política de Renda e o Papel Estratégico do Seguro

Roberto Rodrigues defendeu que o agronegócio brasileiro só poderá cumprir seu papel vital no combate à fome, às desigualdades e à crise climática global se houver uma política de renda consistente para o campo, e o seguro rural é o ponto central desse modelo. Para ele, o seguro não só protege o produtor, mas também impulsiona o nível tecnológico, fortalece o crédito privado e ajuda a evitar os ciclos de endividamento que surgem após cada evento climático severo. Rodrigues concluiu com otimismo, afirmando que o Brasil tem potencial para liderar o cinturão agrícola tropical mundial, e o seguro é uma condição essencial para concretizar esse futuro. Renato Buranello, vice-presidente da ABAG, complementou, defendendo que o seguro rural deve ser visto como parte do “núcleo duro” da política agrícola nacional, e não apenas um instrumento acessório.

Tecnologia e Inovação: Redefinindo o Seguro Agrícola

A tecnologia está transformando a forma como o seguro agrícola opera. Eduardo Brito Bastos, diretor da ABAG, ressaltou que a agricultura emprega cerca de 40% da força de trabalho global e que, para alimentar a população até 2050, será preciso produzir 900 milhões de toneladas adicionais de grãos. Isso exige um salto tecnológico e a recuperação de áreas degradadas. Paulo Hora, da Brasilseg, explicou como a geotecnologia, a modelagem de risco e o desenvolvimento de produtos personalizados permitem uma precificação mais precisa e adaptada às realidades regionais. Ele exemplificou a complexidade, mencionando que uma única seca pode gerar 20 mil sinistros em dez dias, algo impossível de gerir sem tecnologia.

Pedro Loyola, da FGV Agro – OSR, destacou que não há uma “bala de prata” na gestão de riscos, e que o seguro paramétrico, embora útil, complementa o seguro tradicional. Rafael Marani, da Allianz Seguros, defendeu a simplificação da contratação, a customização das coberturas e a agilidade nos pagamentos para que o produtor veja o seguro como um aliado estratégico.

No segundo painel, focado em “Tecnologia e inovação no campo para resiliência climática”, Ivo Kanashiro, da MAPFRE, apontou que produtores com boas práticas sustentáveis tendem a ter menor risco. Guilherme Bastos, da FGV, enfatizou o potencial da inteligência artificial e da abertura de dados para tornar o seguro rural mais acessível. Jairo Costa, da Syngenta, citou o ecossistema Cropwise, que integra dados de satélite e índices de vegetação (NDVI) para otimizar o uso de insumos. Murilo Oliveira, CEO da AUDSAT, detalhou o monitoramento diário via satélite, que substitui “suposição por evidência” na regulação de sinistros e mencionou o ZARC (Zoneamento Agrícola de Risco Climático) – Níveis de Manejo. Léo Carvalho, da Solinftec, falou sobre robôs autônomos que podem reduzir em até 80% o uso de químicos. Raquel Martins Montagnoli, da CNH, alertou para o gargalo da conectividade rural, que cobre pouco mais de um terço do território agrícola, limitando o uso pleno das soluções digitais e a importância da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) no compartilhamento de dados.

Nova Ferramenta de Conformidade Socioambiental da CNseg

O encerramento do evento foi marcado pelo lançamento da nova Ferramenta de Conformidade Socioambiental para Seguros da CNseg, apresentada por Claudia Prates, diretora de Sustentabilidade da Confederação. Ela destacou o compromisso do setor em apresentar soluções concretas na COP30. A ferramenta, que segue as novas regulamentações da Susep e do CNSP (Conselho Nacional de Seguros Privados), já está em operação em sua primeira fase. Ela cruza 11 bases de dados, incluindo informações sobre desmatamento, trabalho escravo e áreas quilombolas, garantindo conformidade imediata, antes mesmo do prazo regulatório de 180 dias. As próximas fases, programadas até 2026, integrarão dados do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), informações de queimadas do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), séries do MapBiomas, além de dados sobre biodiversidade e mudanças no uso do solo. Claudia Prates ressaltou que a ferramenta vai além da conformidade, incentivando boas práticas e orientando seguradoras e produtores rumo a um agronegócio mais sustentável.

Rumo a um Agronegócio Mais Resiliente e Sustentável

A integração de informações, a segurança na contratação e a conexão entre sustentabilidade, governança e proteção rural são essenciais para o futuro do agronegócio. O setor segurador se posiciona como um elo fundamental para uma transição climática responsável no campo, garantindo que a revolução agrícola brasileira continue a prosperar de forma sustentável e resiliente.

Fonte: Revista Cobertura

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