Os gastos com remédios para tratamento de câncer dispararam, e isso levanta questões importantes sobre a sustentabilidade dos planos de saúde. Vamos entender o que está acontecendo.
Planos de Saúde e o Desafio dos Gastos com Remédios de Câncer
O setor de planos de saúde no Brasil está em alerta. A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) expressou preocupação com o aumento expressivo nos custos de medicamentos para tratamento de câncer. Esse cenário se intensificou após a aprovação da lei nº 14.307, em 2022, que acelerou a inclusão de novas tecnologias no rol de coberturas obrigatórias da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
O Impacto da Lei nº 14.307 na Saúde Suplementar
A lei de 2022 trouxe mudanças significativas. Entre 2022 e 2024, os medicamentos foram responsáveis por 81% das novas coberturas que os planos de saúde passaram a ser obrigados a oferecer. O maior salto nos gastos foi justamente com os tratamentos oncológicos, que viram suas despesas subirem para R$ 4,2 bilhões em 2024. Isso representa um aumento de 63% em comparação com 2021.
Medicamentos Orais: Um Fator Chave no Aumento
Dentro desse panorama, os remédios orais para câncer se destacam. Eles corresponderam a 70% das novas incorporações de medicamentos desde 2022. Essa modalidade de tratamento, embora traga mais conforto e praticidade para os pacientes, tem um peso considerável no orçamento das operadoras.
O Cenário Geral dos Gastos com Medicamentos em 2024
Apesar do foco nos tratamentos oncológicos, é importante notar que os R$ 4,2 bilhões gastos com câncer em 2024 representam menos de 20% do total das despesas com medicamentos dos planos de saúde no mesmo ano. O custo total com remédios atingiu a marca de R$ 22,6 bilhões em 2024. O peso dos medicamentos nas despesas assistenciais da saúde suplementar subiu de 7,3% em 2019 para 10,2% em 2024. Desde 2021, os gastos gerais com medicamentos cresceram 61%, ou 39,8% se descontarmos a inflação do período.
Lucratividade das Operadoras em Meio aos Desafios
Mesmo com o aumento dos custos, as operadoras de planos de saúde apresentaram um lucro líquido robusto. No segundo trimestre de 2025, o lucro líquido no Brasil foi de R$ 5,5 bilhões. Esse valor é mais que o dobro do registrado no mesmo período de 2024, que foi de R$ 2 bilhões. Este resultado é o maior para um segundo trimestre desde 2020, quando a pandemia de Covid-19 começou.
A Posição da FenaSaúde: Transparência e Avaliação Rigorosa
Bruno Sobral, diretor-executivo da FenaSaúde, enfatizou a necessidade de mais clareza e rigor. Ele defende que o processo de incorporação de novas tecnologias, assim como as medidas regulatórias e propostas legislativas, deve ter transparência, previsibilidade e uma avaliação técnica rigorosa. O objetivo é garantir um equilíbrio entre o acesso dos pacientes a tratamentos inovadores e a sustentabilidade do sistema de saúde suplementar.
O Equilíbrio entre Acesso, Inovação e Sustentabilidade
A discussão sobre os gastos com medicamentos de alto custo, especialmente para doenças complexas como o câncer, é um tema delicado. É fundamental que os pacientes tenham acesso às melhores e mais recentes inovações terapêuticas. Contudo, o sistema precisa ser financeiramente viável para continuar oferecendo esses serviços. Encontrar esse ponto de equilíbrio é o grande desafio para o futuro da saúde suplementar no país.
Fonte: Folha de S.Paulo

